Até um dia…

por Inoema Jahnke

       
  Como se prepara, não é uma viagem onde quando a saudade apertar é só voltar, é uma despedida não  um até logo, não dá para pegar o telefone e ligar quando só o que precisamos ouvir é um “oi filha”, como alguém se prepara pra dar adeus a quem se ama de mais? Eu não sei, não consegui me preparar, não sei se algum dia vou lembrar do meu pai sem sentir esse nó na garganta. Apego-me ao que eu acredito eu tenho para mim  que a vida é uma estação onde chegamos, ficamos algum tempo, alguns muito, alguns pouco e alguns como o meu pai fica 89 anos.

Mas todos que aqui chegam um dia partem, eu acredito que “a vida” é só uma estação um local de observação e aprendizado, quando chegamos aqui já temos o nosso bilhete marcado com o dia e a hora da partida, sei que aqui não é a nossa casa é apenas o lugar onde estamos de passagem, acredito que a morte não seja o fim, mas o começo de algo que vai além da nossa compreensão, acredito que a despedida seja triste apenas para quem fica, pois, quem da vida parte  “retorno a casa do pai”, acredito sim, que todos nós tornaremos a nos reencontrar em um lugar muito melhor, alguns chamam este lugar de céu, outro de paraíso, eu o chamo de casa, sei que meu pai retornou a casa do nosso Senhor, que Deus pai  recebeu seu filho de braços abertos, que o acolheu em seu infinito amor e hoje  o pai tá lá contando as aventuras que ele viveu nesses 89 anos muito bem vividos, a nós nos resta aceitar a vontade de Deus, e agradecer o tempo que passamos juntos, e eu sou grata meu Deus por cada instante que eu estive ao lado do meu pai. 

Quem parte deixa muita saudade é verdade, tanta saudade que parece que não vamos aguentar, mas também deixa muitas alegrias, que guardamos para sempre em cada lembrança em cada momento que recordamos  e é desta forma  através da alegria, do amor que compartilhamos do tempo que convivemos juntos, de tudo  que ficou em nós , que ele pra sempre fará parte da nossa vida; eu agradeço a Deus por ter me confiado ao seu Euclides por fazer feito ele meu pai, meu guardião, o meu protetor aqui na terra, Deus não poderia ter escolhido um pai melhor, eu aprendi muito com ele, aprendi a ter coragem, ele me ensinou a ser responsável, me ensinou que palavra dita vale como palavra escrita para quem tem vergonha na cara, com seu exemplo de homem corajoso e trabalhador, de pai  amigo, amoroso e protetor me ensinou a ser grande parte do que sou, lembro-me de menina pequena ser carregada nos ombros do pai, nossa eu adorava, das brincadeiras de jacaré na lagoa quando dois juncos amarrados viravam uma toca e o jacaré grandão vinha nós pegar, das paradas nas viagens para fazer um piquenique a sombra de alguma árvore, lembro quando o pai me ensinou a comer pão com banana, e para mim se tornou o melhor acompanhamento para o pão, de crescer orgulhosa “do meu pai” de ser filha do seu Euclides, para mim o homem mais forte do mundo, respeitado e temido, sim, pois ninguém se metia com o seu Euclides, e quando o pai falava, estava falado, e isso pra mim era o máximo, o meu pai era e é o máximo…

Meu herói , ele era real eu não tinha que estar em perigo para ele aparecer não precisava gritar por socorro era só dizer pai e ele estava lá, eu lembro que quando criança nunca tive medo do bicho-papão nem  de bandido eu sabia que ninguém teria coragem de enfrentar meu pai,  eu cresci sabendo que se algo de mau me acontecesse, se em algum lugar eu me perdesse ele iria me encontrar, me ajudar, que eu não precisava ter medo, porque ele sempre estaria por perto, foi bom crescer assim segura, protegida, tá certo um pouco mimada, quem me conhece sabe que o pai me mimava mesmo, do pai eu era a boneca, a bonequinha que adorava deitar atrás do banco do carro pertinho do vidro traseiro, a menina que ficava encantada ouvindo ele contar histórias de quando ele era mais jovem de antes de eu nascer; ele, era meu herói, meu guardião, minha identificação… meu ponto de referência, “eu sou Inoema a filha do Euclides”,  hoje faz sete dias que eu estou órfão  da sua companhia física, meu coração vai ter que se acostumar com a saudade, com a falta que ele vai fazer na minha vida, com o tempo vou preencher este vazio com as lembranças, e tudo vai ficar mais fácil, eu sei , mas por enquanto eu ainda choro a noite, ainda sinto essa solidão que mais parece um buraco dentro de mim, ainda estou meio entorpecida, meio que não acreditando na despedida, por isso escrevo…

Para mim sempre foi uma boa forma de me escutar, de me entender,  hoje escrevo principalmente para homenagear este que foi e vai sempre ser meu amor, hoje faz sete dias  e só hoje consegui escrever, é muito difícil, mas é preciso me despedir assim do meu jeito, colocando no papel meus sentimentos e meu respeito por tudo que meu pai  foi e continua sendo na minha vida.

Que a luz do espírito santo o ilumine e lhe mantenha na paz da companhia do Nosso Senhor, até um dia pai, eu te amo!

16 de novembro de 2013/inoemaescritora.blogspot.com.br

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1 comentários

Poema Saudade - Inoema Escritora e Poeta 16/06/2020 - 21:57

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